4ª FASE DE TRABALHO

Ficha técnica:
Direcção: Ana Silveira Ferreira
Apoio à direcção: Hugo Miguel Coelho
Trabalho de actor: João Castro
Produção: Palavras Loucas Orelhas Moucas
Com o apoio da Câmara Municipal de Valongo

Apresentações públicas: 5, 6, 7, 8, 12, 13, 14 e 15 de Janeiro de 2006 no Centro Cultural de Alfena


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Estrutura das apresentações:

1- Entradas
São diariamente entregues (por escrito) ao João indicações relativas ao número de entradas, tipos de movimentos e locais das mesmas. Estas indicações, conhecidas pelo actor minutos antes da apresentação pública ter início, são, por ele, somadas às regras-gerais que pautam este exercício em qualquer apresentação, mesmo na ausência de indicações acrescidas. Trata-se assim de conciliar marcação e improvisação.

2- Bloco de improvisação
Para este bloco de exercícios, contamos com uma espécie de dicionário desenvolvido ao longo das sessões de trabalho: aos números correspondem acções, às letras correspondem complementos das acções, às músicas correspondem coreografias específicas e aos verbos corresponde um exercício de improvisação repetitiva e, a cada vez, mais diferenciada.
As indicações são dadas diariamente, perante o público, de forma aleatória, querendo fazer valer essa (evidente) dimensão poética da espera.

3- Exercício das cadeiras

As linhas no chão do palco abrem-nos a possibilidade de dividirmos o palco em 1, 4, 8 ou 16 quadrados:










A cada uma dessas possíveis divisões corresponde um jogo específico (uma ordem na disposição das cadeiras / um numero máximo e mínimo no primeiro quadrado; um único sentido para jogar ou os dois; uma progressão para os quadrados vazios; …) com os quadrados seleccionados. Como peças, usamos as cadeiras, colocadas estrategicamente segundo o jogo escolhido.

4- “Footfalls”, Samuel Beckett
Leitura encenada da peça “Footfalls” (1975), de Samuel Beckett.
O texto original, crivado de indicações didascálicas, levanta problemas de representabilidade.
A locução indicada do texto é lenta e com fraca projecção.
O desenho dos movimentos dos pés é-nos milimetricamente detalhado.
Cem pausas num texto de quatro páginas. Algumas dessas pausas devem ser longas…







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Incutida que está genericamente (…) a ideia de que na espera nada precisa de acontecer, é justamente aí que algo de muito precioso tem lugar, sem que o actor tenha, na maioria dos casos, consciência. Esta tendência para se pensar que no intervalo nada se passa (…) conduz o actor justamente para o contrário do que procuro contradizer: uma excessiva vontade ou pretensão em querer agir e, consecutivamente, um excesso de acção (e reacção). Crente de que não está em cena enquanto não age (psicológica ou fisicamente, segundo os cânones de uma qualquer escola trabalhada), deixa-se ficar num dos mais simples e funcionais exercícios de cena, pela concentração de apenas fazer-se obedecer, até aos limites, às direcções fornecidas. Assim, nesse momento, o actor aparece na sua mais inocente humildade e trabalha sem saber exactamente a verdadeira dimensão deste seu esforço – ele já não é só concentração e execução, ele age no plano do imprevisível e do sistemático involuntariamente.
Esta percepção (meramente empírica, até aqui) e a minha convicção de que existe nestas ideias algo que ainda não foi "definitivamente" explorado (esse estado intermédio precisa ser entendido enquanto acontecimento em si no trabalho do actor), quer cenicamente, quer filosoficamente, conduziram-me a esta quarta fase de trabalho.


(Excerto de um texto escrito em Setembro de 2005, incluído na folha de sala.)